A 19 de junho, a Sextante Editora publica Itália – Práticas de viagem, de António Mega Ferreira, que, na esteira dos grandes escritores viajantes de outros séculos, põe desta vez nas mãos dos leitores o relato de uma «viagem intelectual e afetiva» que «representa a súmula de muitas viagens a Itália, ao longo de quatro décadas de apaixonada convivência com os lugares e as gentes, mas sobretudo com a cultura italiana».
Itália – Práticas de viagem vem agora juntar-se a um outro livro-irmão mais velho, Roma – Exercícios de reconhecimento, também publicado pela Sextante em 2010. Estes dois livros compõem uma maravilhosa viagem a Itália, completamente original na literatura portuguesa, oferecida pelo olhar culto e pela escrita de grande beleza de António Mega Ferreira.
Excerto da introdução
«Mas, de todas as viagens na Península Itálica que deram origem a testemunhos literários, nenhuma se tornou tão célebre como a Viagem a Itália (Italienische Reise) empreendida por Johann Wolfgang van Goethe (1749-1832) entre 1786 e 1788, mas só dada a estampa, na forma de livro, muito mais tarde, entre 1816 e 1829. A viagem a Itália era uma obsessão de Goethe, que para ela se preparou durante muito tempo, querendo repetir (mas não replicar) a que o seu pai fizera, nos anos de 1740. A Itália tornou-se para ele uma «ideia fixa que quase já envelheceu na minha alma». De facto, o poeta tinha quase quarenta anos quando, «apenas com um alforge e uma mochila de pele de texugo por bagagem», meteu pés ao caminho para uma longa viagem que, evocada décadas depois, assumiu para ele o lugar de uma revelação: a do seu eu artístico. A viagem a Itália de Goethe é muito mais uma viagem em busca de si mesmo do que uma observação sistemática do que era a Itália em finais do século XVIII. Certo é que a obra de Goethe se tornou referência obrigatória para todos os viajantes em Itália ao longo do seculo XIX e foi ela que mais consistentemente contribuiu para a mitificação da paisagem e da civilização italianas entre os visitantes de todo o mundo. […]
O livro que o leitor tem nas mãos é de natureza e génese diferente. Representa a súmula de muitas viagens a Itália, ao longo de quatro décadas de apaixonada convivência com os lugares e as gentes, mas, sobretudo, com a cultura italiana, à qual não se pode deixar de reconhecer um papel determinante na construção de uma identidade europeia, essencialmente centrada na luminosidade expansiva e sensual do sul, em alternativa à sombria meditação de indução luterana do norte da Europa. É viagem intelectual e afetiva, acima de tudo, embora não dispense a observação presencial de lugares e hábitos, que fazem parte da nossa experiência de um país tanto como os testemunhos visíveis da sua inscrição na História.»
O AUTOR
Escritor, gestor e jornalista, nasceu em Lisboa em 1949, estudou Direito e Comunicação Social, foi jornalista no Jornal Novo, Expresso e O Jornal, e na RTP, onde chefiou a redação da Informação do segundo canal. Foi chefe de redação do JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias. Fundou as revistas Ler e Oceanos. Chefiou a candidatura de Lisboa à Expo’98 e foi comissário executivo da Exposição Mundial. Foi presidente da Parque Expo, do Oceanário de Lisboa e da Atlântico, Pavilhão Multiusos. De 2006 a 2012 presidiu a Fundação Centro Cultural de Belém. Atualmente, desempenha as funções de diretor executivo da AMEC/Metropolitana. Tem mais de trinta obras publicadas, entre ficção, ensaio, poesia e crónicas. Em 2001 foi-lhe atribuído o Grande Prémio Camilo Castelo Branco pelo seu livro de contos A expressão dos afectos.